A Luz da Alvorada
Episódio, mais tarde testemunhado, demonstrativo da infiltração maçónica na Monarquia do Norte, e respetivas simpatias pela República do Sul.
D. Cesário Palhares, Bispo do Porto, estava na biblioteca do Paço Episcopal quando o seu secretário pessoal, diácono Antunes, lhe anunciou a chegada do padre Elísio Marques. Assim que o visitante foi introduzido na biblioteca, o bispo deu-lhe o anel a beijar e perguntou-lhe:
– Então, padre, que novidades me traz?
– Trago algumas, Excelência, e não são boas.
– Sou todo ouvidos.
– Descobri uma rede maçónica no Seminário, com óbvias simpatias pela República. Os inimigos de El-Rei estão infiltrados por todo o lado. Tenho todos os detalhes neste relatório.
Padre Elísio entregou ao bispo um molho de folhas.
– Obrigado, padre. Mais alguém sabe disto?
– Ninguém, Excelência. Segui à letra as vossas instruções.
– Irei ler com toda a atenção. No entretanto, exorto-vos a considerar todo o conhecimento obtido como um segredo de confissão.
– Assim será, Excelência.
– Conduzi o padre Elísio aos aposentos que lhe destinámos – instruiu ao diácono, antes de abençoar o sacerdote. – O Senhor esteja convosco, padre.
– E convosco, Excelência.
O olhar trocado entre o bispo e o secretário passou despercebido ao padre Elísio. Antunes acompanhou o sacerdote à saída, enquanto o bispo se sentou e começou a ler o relatório. Estava a terminar a leitura quando o diácono regressou.
– Já está, Excelência. Alojado numa cela nos subterrâneos do Palácio.
– Deve ser mantido aí, incomunicável. E é necessário reforçar a segurança do Seminário.
O secretário anuiu com um movimento da cabeça e saiu.
O bispo chegou junto da lareira e atirou para as chamas o relatório que acabara de ler. Em seguida, dirigiu-se aos seus aposentos. Tinha de trocar de roupa e colocar a máscara ritual, para a reunião que teria lugar daí a uma hora. Não seria nada conveniente que se soubesse que o Bispo do Porto era o grão-mestre da loja A Luz da Alvorada.
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