Carta aberta do Professor Manuel Almeida, publicada na Real Gazeta Invicta, no dia 11 de março de 1922
Carta aberta do Professor Manuel Almeida, eminente naturalista da Real Universidade do Porto, do reino da Monarquia do Norte, e publicada na Real Gazeta Invicta, no dia 11 de março de 1922
Prezado Diretor da Real Gazeta Invicta, Exmo. Sr. Dr. Miguel Praça,
Dirijo-me a Vossa Excelência e a todos os leitores como última medida de desespero, em apelo de resolução para uma situação que nos afetará a todos. Desde que começou a guerra entre a nossa amada Monarquia e a República de capital sulista, dediquei-me à única contribuição que podia oferecer enquanto patriota, o estudo e preservação da riqueza natural da nossa terra duriense. Pois se não prepararmos a paz, nunca venceremos a guerra, e a paz sustenta-se não só de ideais, diplomacia e políticas certeiras, mas igualmente da riqueza da natureza e do conhecimento que esta traz, coisa que já Alexandre, o Grande, reconhecia ao enviar para o seu velho mestre, o filósofo Aristóteles, exemplares da fauna e flora dos territórios que conquistava. Foi por isso que, com espanto, em primeiro lugar, e horror em segundo, reparei que desde que começamos a implementar a produção intensiva de combustível vínico para a tecnologia que desenvolvemos desde o começo da guerra que a riqueza piscícola do rio Douro está a ser severamente afetada. As descargas brutais de resíduos do bioetanol vínico e da sua produção coloriram de vermelho rubro o nosso solho, Acipenser sturio de declinação latina. A esta mudança de cor, seguiu-se a morte, e a morte eliminou o ciclo reprodutivo deste peixe, que animou as águas do Douro, e tão elogiado pelos conquistadores romanos foi. Em menos de três anos, as nossas águas e as nossas mesas perderam a riqueza que este peixe trazia, devido à poluição. Apelo a que se procurem medidas para diminuir as descargas da produção de bioetanol vínico nos rios, ou teremos a fome a seguir à guerra. A fome de estômago, de alma e de pensamento.
Atenciosamente,
Manuel Almeida
(Professor Doutor da Real Universidade do Porto)
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https://escritosdodouro.blogspot.com/2011/05/os-esturjoes.html
https://www.wilder.pt/historias/pode-o-esturjao-regressar-aos-rios-de-portugal
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