A Escassez de Vinho

Notícia posterior à queda da Monarquia do Norte.

Um problema que surgiu durante a vigência da Monarquia do Norte foi a crescente escassez de vinho na restauração à medida que cada vez mais vinhas eram convertidas para a produção da estirpe Saccharomyces monarchica. Consciente deste facto, Zé do Pipo, dono de uma tasca na Ribeira, montou aos poucos um negócio para resolver este problema.

Nado e criado no Alto Douro Vinhateiro, conhecia muitos agricultores, a quem convenceu a plantar videiras clandestinas, portanto não cadastradas pelo Serviço de Informações da Monarquia. A rede relativamente complexa de colheita e recolha das uvas, fermentação em diversos locais discretos, armazenamento do vinho, e sua distribuição aos locais de consumo, funcionou durante bastante tempo sem levantar suspeitas (embora se ouvissem murmúrios de que alguns funcionários subalternos da Repartição fechavam os olhos quando necessário). O transporte era feito de diversas formas mais ou menos engenhosas – por exemplo, em vasilhas de leite – e a armazenagem recorria também a locais pouco convencionais – vários pipos foram descobertos detrás do altar da igreja do Carmo, aquando de obras de conservação efetuadas no templo. Responsabilizado o sacristão, foi este detido e recolheu à Cadeia da Relação.

O seu interrogatório forneceu informações que, após um trabalho persistente e paciente da Repartição, levaram ao desmantelamento da rede e à prisão de Zé do Pipo.

Este não esteve, todavia, muito tempo privado de liberdade. Considerado pelo povo do Porto como um herói popular, duas noites depois da sua detenção conseguiu escapar, de forma nunca esclarecida. Os guardas foram encontrados a dormir, presumivelmente drogados. É provável que nessa mesma noite tenha saído da cidade.

Não mais houve notícias de Zé do Pipo, embora fosse dito à boca pequena que se teria refugiado em território republicano.