Inês Montenegro

Ata da Reunião Extraordinária da Real Companhia Vinícola a 13 de Março de 1919

1919 Porto

Ata da Reunião Extraordinária da Real Companhia Vinícola a 13 de março de 1919

Presentes: D. José Maria Guedes, Conde de Samodães (Presidente e Sócio Maioritário), D. Maria da Assunção Pacheco (Sócia), D. Francisco de Assis Ramalho (Sócio), Mário Monteiro (Tesoureiro), António Francisco Teixeira (Secretário-Geral).

Às nove horas do dia 13 de março de 1919, na sede da Real Companhia Vinícola, na Rua de Entreparedes, n.º 42, António Francisco Teixeira deu início aos trabalhos com a leitura da ata da reunião anterior, aprovada sem alterações. Em prosseguimento, deu início à pauta do dia, a qual se considerou de relevo a justificar uma reunião extraordinária: a apresentação, por parte de Ilya Ilyich Mechnikov, da estirpe batizada Saccharomyces Monarchica, uma nova espécie de leveduras destinada não ao consumo, mas à produção de combustível. Tomou a palavra D. Francisco de Assis Ramalho, o qual se opôs ao envolvimento da organização com o que considerou «uma aberração da natureza», alegando ter sido a Real Companhia criada com o intento de proteger e fomentar as bebidas de mesa, não as «rafeirices de motores». Opôs-se-lhe D. Maria da Assunção Pacheco, ao salientar que tanto o solo quanto as vinhas seriam as mesmas, não sendo o seu uso final determinante da qualidade do produto. Recordou, ainda, que as origens da própria Real Companhia se encontravam interlaçadas com o avanço sociocultural, ao elevar o vinho espumante «numa altura em que pouco investimento este recebia», deixando claro estar a Real Companhia, presentemente, perante «uma situação similar». D. José Maria Guedes, Conde de Samodães, requereu parecer financeiro ao Tesoureiro Mário Monteiro. Após veredito positivo «a longo prazo», deixando o alerta de que os vinicultores sofreriam perdas iniciais pela necessidade de substituir os vinhedos existentes pela estirpe Saccharomyces Monarchica, o Conde de Samodães acatou favoravelmente os argumentos apresentados por D. Maria da Assunção Pacheco. Procedeu-se, de seguida, a uma rápida votação, com D. José Maria Guedes e D. Maria da Assunção Pacheco a reunirem a maioria absoluta, contra o voto de D. Francisco de Assis Ramalho, para o oficial acolhimento e fomentação da Saccharomyces Monarchica por parte da Real Companhia Vinícola.

Nada mais havendo a tratar, a reunião foi encerrada, sendo a presente ata lavrada por mim, António Francisco Teixeira, Secretário-Geral, e assinada por todos os presentes.

Alessio Fiorentino
Referências

«Artigo publicado na Real Gazeta Invicta, aquando da inauguração da II Exposição Industrial Portuguesa, no dia 17 de janeiro de 1920», Inês Montenegro

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