«Catástrofe no Club Portuense!»
Artigo publicado na Real Gazeta Invicta, aquando do atentado que vitimou duas debutantes, no dia 2 de junho de 1920
Catástrofe no Club Portuense!
O terror grassou ontem no que deveria ter sido o evento de uma vida para dezenas de jovens debutantes! O baile de apresentação à sociedade, promovido pelo Club Portuense – por norma reservado aos sócios do sexo masculino, e onde negócios se resolvem ao almoço –, com morada na rua de Cândido dos Reis, foi brutalmente interrompido pelo espoletar de uma bomba caseira. As jovens, encantadoras nos seus vestidos brancos, eram encaminhadas pelos pais para a primeira valsa quando a explosão abalou o edifício, criando o pânico e causando duas mortes: a das debutantes Mariana Ramalho e Constança Varal. A redação da Gazeta lamenta os infortúnios e envia os sentidos pêsames às famílias.
A rápida intervenção da Repartição permitiu a identificação e o desmantelamento de mais duas bombas, também de fabrico caseiro. Acredita-se que a vil ação terá tido como alvo a rainha D. Maria III, presente no que seria o seu primeiro evento enquanto monarca. Foram apreendidos quatro suspeitos, um deles o porteiro do edifício. Todos se encontram ainda sob interrogatório. A República do Sul já emitiu um comunicado, negando a participação no sucedido e lamentando as mortes inocentes que os atos do que alega ser «um grupo independente, em cujas ações a República não se revê» causaram.
Se um cruel ataque republicano, se, de facto, um ato independente, apenas o tempo – e os interrogatórios – o dirão. No entretanto, El-Rei D. Manuel II decretou sete dias de luto nacional.
«Carta de D. Teodolinda Ramalho a seu Esposo, D. Francisco de Assis Ramalho, a 28 de Junho 1919», Inês Montenegro
«O Baile das Debutantes, uma tradição que o Club Portuense conversa há mais de 100 anos», Carminho Sousa Guedes, Sofia Silva Freitas e Mafalda Oliveira Marques
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