Samuel Etienne

«CODPUNK®: um novo biocombustível à base de óleo de fígado de bacalhau!»

1921 Paris

Artigo publicado no Le Petit Inventeur, a 1 de abril de 1921, Paris

A empresa bretã Belle Morue (Saint-Malo) apresentou, no concurso Lépine 1921, um revolucionário destilador de combustível à base de óleo de fígado de bacalhau, o Codpunk ®. Ao contrário do vinho do Porto, o óleo (nomeadamente o de fígado de bacalhau) não pode ser fermentado diretamente pelas leveduras Saccharomyces Monarchi, uma vez que estas não metabolizam os lípidos como principal fonte de carbono. Preferem açúcares simples (glicose, frutose), e as gorduras são hidrofóbicas, mas as leveduras evoluem em ambientes aquosos.

O óleo de fígado de bacalhau pode agora ser usado como biocombustível, principalmente na forma de biodiesel, graças ao processo desenvolvido pelo Dr. Seitoung, médico franco-islandês, e industrializado com a máquina de destilação Codpunk®. De facto, o óleo de fígado de bacalhau, tal como outros óleos, é rico em triglicéridos, o que o torna num substrato potencial para a produção de biodiesel através de uma reação de transesterificação.

As quatro etapas principais do processo de transformação são:

1. Pré-tratamento:

• Filtragem: eliminação de impurezas sólidas.

• Desidratação: eliminação da água, a qual prejudica a transesterificação.

• Neutralização (se necessário): eliminação dos ácidos gordos livres (AGL), caso estejam em níveis demasiado elevados, o que poderá levar à formação de sabões.

2. Transesterificação (reação em que o álcool do éster reagente é substituído por outro álcool):

• Reagentes: Metanol + catalisador (geralmente hidróxido de sódio ou potássio – NaOH / KOH).

• Reação: Triglicérido + Metanol → Ésteres metílicos (biodiesel) + Glicerol.

• Esta etapa é realizada num reator agitado, a temperatura moderada (50-60 °C).

3. Separação:

• Decantação: separação do biodiesel e do glicerol por gravidade.

• O glicerol, um subproduto, pode ser utilizado noutros produtos (em cosméticos, farmacêuticos ou refinado).

4. Purificação do biodiesel:

• Lavagem com água, ou processo a seco (por adsorção), para eliminar resíduos do catalisador, sabão e álcool.

• Secagem final para remover qualquer vestígio de água ou metanol.

A inovação do Dr. Seitoung consiste no desenvolvimento de uma fermentação microbiana com hidrólise enzimática prévia: primeiro, é necessário hidrolisar o óleo em ácidos gordos livres e glicerol através de lípases. A lípase é uma enzima digestiva produzida pelo pâncreas que hidrolisa as gorduras. O glicerol resultante dessa hidrólise pode ser fermentado pela Saccharomyces ou outras leveduras (por exemplo, a Klebsiella e a E. coli, modificadas) para produzir etanol. Os ácidos gordos podem ser fermentados pela Yarrowia Lipolytica para produzir biodiesel (através de esterificação enzimática); a Saccharomyces Cerevisiae não é capaz de fermentar diretamente óleos como o de fígado de bacalhau, mas existem processos biotecnológicos alternativos que utilizam outros microrganismos capazes de valorizar os ácidos gordos. Uma abordagem combinada (hidrólise enzimática + co-cultura ou sequenciamento microbiano) permitiria uma valorização completa.

Outras inovações encontram-se em desenvolvimento, tendo o Dr. Seitoung declarado: «Poderíamos até adicionar aromas por fermentação metabólica, como banana com Saccahromyces, ou coco com Yarrowia Lipolytica.»

Foto: O Dr. Seitoung a posar frente ao alambique Codpunk, no seu laboratório em Saint-Servan.

@SamuelEtienne (using Nighcafe and Photoshop)
Referências

Baseado no Universo Winepunk. /Inspired by the Winepunk Universe.

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