«Comemoração do 8º aniversário da proposta de criação da Região Galega (e agora Celta) com a publicação de um mapa histórico»
Noticia publicada no jornal Mar do Norte, a 17 de julho de 1929
Foi hoje inaugurado o mapa oficial da Região Galega, de Dantín Cereceda, que terá presidido aos quase criados edifícios administrativos do governo. Com este ato, pretendeu-se relembrar todo o trabalho para tornar realidade um novo Estado.
Como é sabido, desde a visita de Leonardo José Coimbra à Corunha, a 7 de setembro de 1921, foi publicamente selado um pacto de irmandade entre a Galiza e a Monarquia do Norte (Portugal), já promovido pela sociedade civil e por diversas instituições galegas e portuguesas do Norte. A intenção era a criação da Região Galega, como um novo país apoiado pelo Reino do Norte de Portugal, e após uma intensa relação anterior com o grupo de intelectuais que liderou a sua constituição, o Grupo Nós, especialmente com Vicente Risco, na Galiza.
É também de destacar o impulso dado pelas Irmandades da Fala (fundadas em 1916), uma rede de grupos político-culturais cujo elemento fundamental é a propaganda e o uso intensivo da língua galega, que começa a ser utilizada regularmente na prosa narrativa (contos e romances), na prosa não ficcional (artigos, ensaios, textos didáticos e informativos), na oratória pública e no discurso formal. No que respeita aos autores, salientam-se figuras como V. Risco (1884-1963), R. Otero Pedrayo (1888-1976) e, sobretudo, A. Rodríguez Castelao (1886-1950). Entre o grupo de agentes de divulgação cultural, destacam-se jornais como A Nosa Terra (1917-36), revistas como Nós (1920-23, 1925-35), o Seminario de Estudos Galegos (1923-36) e o Partido Galeguista, fundado em 1931.
Apesar do cataclismo de 23 de abril de 1922, que fez desaparecer a Galiza tal como existia, as ilhas resultantes reclamam a sua autonomia, mas têm uma especial sinergia com Portugal, um país com raízes profundas, num incomensurável espaço natural e vital. Uma ideia, apoiada também por intelectuais como Fernando Pessoa, Emilia Pardo Bazán ou Castelao, cujo desenho À Beira do Minho, publicado em 1920, tem servido de logótipo e apelo à mobilização e reivindicação. A coincidência com um dos marcos do processo de independência da Irlanda, a Revolta da Páscoa, em 1916 (uma rebelião armada contra a autoridade britânica que levou à independência do país em 1922), leva muitos intelectuais que hoje vivem nas ilhas a exigir que os primórdios do estabelecimento de acordos especiais com Portugal sejam também estendidos à República da Irlanda. É de recordar que, segundo Lebor Gabála Érenn, em Livro das Conquistas da Irlanda – uma compilação escrita de lendas orais feita por monges irlandeses no século XI –, a invasão dos «Filhos de Mil» de «Brigantia» (Brigantium) (Corunha) na Galiza, fundada por Breogán, foi a última das invasões celtas que governariam a Irlanda, mantendo o seu poder até à chegada dos normandos no século XII, de História e cultura partilhadas, e da cultura celta (foi da Galiza que a linhagem celta chegou à ilha). Poder-se-ia, portanto, formar uma «Região Celta», constituída pela Galiza, por Portugal e pela Irlanda.

Consello da Cultura Galega (online). Leonardo Coimbra. http://epistolarios.consellodacultura.gal/album-de-galicia/detalle.php?persoa=26770
Consello da Cultura Galega (online). 1916-1950. “Xeración Nós”: El rayo transparente. https://consellodacultura.gal/especiais/loia/historia.php?id=86&idioma=3
Dantín Cereceda, J. (1929). Península Ibérica, en Granger, E., Dantín, J. & Izquierdo, J. (eds.). Nueva Geografía Universal, Madrid. Tomo III, 372, citado en: Trillo Santamaría, J. M., & Garcia, J. (2015). Galicia-Minho: el cuestionamiento de una frontera. Debates en el discurso geográfico ibérico. Revista de Historiografía, 23.159-189. https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/81697
Real Academia Galega (2014). Castelao Ilustrador. https://academia.gal/-/castelao-ilustrador
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