AMP Rodriguez

Obituário de Ana Raquel da Cunha Areal

1920 Porto

Comunica-se que faleceu a Menina Ana Raquel da Cunha Areal, amada irmã, amada filha, amada neta, amada por todos, desde tenra idade, doce como a primavera, estação em que nasceu, e na qual começou a sua subida para o Céu, onde está como o anjo que sempre foi. A dor sobreveio pelo desalento do testemunho do pesar da sua irmã amada, que perdeu o noivo nesta Guerra cobarde que a Infame República dirige contra o nosso justo e legítimo Soberano. A irmã, espelho da sua face e da sua alma, nascida no mesmo dia e que agora sofre duplamente, declarou que «Porque o meu coração não suportaria toda a dor, a minha irmã dividiu comigo o que me rasgava em angústia, como se o amor também fosse dela. Nunca ninguém poderia fazer mais do que ela, entrelaçou as mãos nas minhas, cortando-se no papel da carta de má notícia, e sangrou por mim, apaziguando a dor.» Desde esse dia, a Menina Ana Raquel nunca mais se levantou, chorando todos os dias à hora a que a terrível notícia da morte do garboso mancebo se tinha feito presente. Finalmente, o seu coração extinguiu-se, tendo deixado em carta à irmã: «Morro eu, para que vivas tu. Ama novamente, os mortos não beijam.» O seu corpo será velado hoje, na Igreja das Carmelitas, e será sepultado amanhã no Cemitério de Agramonte.

From the Australian National Maritime Museum collection
Referências

Real Gazeta Invicta (publicada em 2013 pela Invicta Imaginaria para o Fórum Fantástico 2013)

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